Iniciado e finalizado em 2018, projeto vem para suprir a demanda de um produtor de cerveja artesanal de Fortaleza que necessitava aumentar sua produção com a finalidade de atingir o mercado em uma escala estadual. Para tal, foi proposto em um terreno próximo a uma via de ligação regional do município do Eusébio em um único volume um sistema funcional para organizar os fluxos de recebimento de materiais, armazenagem, produção da cerveja, engarrafamento, despacho do produto final, além de abrigar o setor de pesquisa e propagação de leveduras juntamente com os setores de gerência e comercialização do complexo. Para tal, o arquiteto Luciano Marrocos Aragão faz uso de uma estrutura metálica preenchida na sua face externa por tijolos de adobe e revestida internamente por uma camada de azulejos. O prédio faz uso de uma treliça composta por vários arcos adicionados, a qual, ao ser usada em sequência, forma uma composição de abóbadas de berço que evoca a imagem de uma arquitetura do passado.
O complexo possui dois pavimentos estando os serviços e as instalações na periferia, enquanto o coração do edifício abriga os enormes toneis de fermentação de cerveja que podem chegar a medir 6 metros de altura. O pavimento inferior, mais fechado devido a necessidade de se isolar a produção industrial da possibilidade de algum contaminante externo, é formado por paredes curvas compostas de tijolinhos de barro cozidos por menos tempo que remetem aos barris usados em antigas técnicas de envelhecimento da bebida. Essas reentrâncias circulares se afirmam funcionalmente ao criar o espaço interno e protegido que serve para abrigar barris de madeira semelhantes aos da inspiração. Todo o primeiro andar é coberto por uma abóbada de telha metálica dobrada, a qual circunda todo o complexo, hora servindo como proteção para a carga e descarga de mercadorias, hora servindo como área de descanso e integração entre o bar e o jardim. Esse elemento de sombra e descanso evoca fortemente a experiência lúdica de estar nas antigas varandas das casas de fazenda do interior e também uma arquitetura colonial. Se levarmos em consideração que as sucessões de abóbadas nos remetem à uma arquitetura estrangeira, talvez Moura ou Turca (dependendo do histórico de viagens do leitor), o elemento avarandado serve como ligação entre o edifício proposto e a linguagem da arquitetura local, ainda mais se observarmos que a varanda como um elemento que circunda todo o edifício e serve de transição entre o ambiente externo e interno ainda é encontrada nas tipologias residenciais que permeiam a região de entorno do projeto.
Já o andar superior conta com aberturas pensadas para permitir o conforto térmico do conjunto, a renovação de ar e servir também à iluminação da área de escritórios. São propostas janelas modulares que funcionam como elementos fortes de marcação da fachada sendo as mesmas formadas por uma estrutura mista de vidro temperado fosco e aço fundido. O ferro fundido e o vidro é escolhido como material de composição das janelas devido a facilidade de se encontrar mão de obra trabalhando em fundições locais produzindo outros elementos de ferro como grades e porto~es com motivos ecléticos. Desse modo, o arquiteto desenvolve uma relação antropofágica com a mão de obra local, onde o conhecimento popular é revisitado a partir de uma ótica erudita. No topo das duas fachadas de menor proporção, as quais podem ser entendidas como arquétipos de frontões, são propostas aberturas feitas com a intercalação dos tijolos conformantes da própria fachada juntamente com uma vedação em tela metálica. A área de carga e descarga do complexo prevê o desembarque de caminhões de grande porte com uma doca elevada (composta no elemento da varanda), assim como uma rampa para a provável demanda inicial de desembarque de veículos menores como mini-caminhões baús, caminhonetes pick-ups ou até mesmo carros de passeio, se considerarmos a possibilidade do cliente final fazer a compra de cerveja em grande quantidade na própria fábrica.